A advocacia sistêmica pode ser definida a partir da postura profissional, direcionada a compreender suas ações, seus comportamentos, conflitos e relações, para, assim, compreender o contexto do conflito trazido pelo seu cliente. Esse posicionamento abrange um olhar humanizado, na medida em que promove autorreconhecimento como humano diante de outro humano.
O advogado ou profissional, que aplica práticas sistêmicas e o conhecimento das Constelações Familiares e Sistêmicas, compreende o cliente em sua individualidade, em suas particularidades, em sua diversidade, em sua dignidade. Consegue trazer um olhar para além do que o cliente está trazendo, a lide sociológica do conflito, que envolve aspectos complexos e únicos, simultaneamente.
O facilitador da solução do conflito irá auxiliar clientes a perceber as causas do conflito, a realidade em que está inserido, as relações entre os envolvidos, quem está impactado pelo conflito. Nessa condução, o olhar além configura-se no olhar para o sistema do cliente, sua necessidade e seu contexto. Todo problema possui uma parte visível, consciente, mas a raiz dele encontra-se muitas vezes submersa no inconsciente, na repetição de padrões, no automatismo de comportamentos, o que não é consciente.
É preciso uma breve explicação de sistema. Através do pensamento sistêmico, as relações humanas não vistas como um sistema. Uma família é um sistema, composto de pais, filhos, avós, ancestrais, irmãos, casal, que se interligam através de uma complexidade de relações e padrões culturais, religiosos, regionais etc. Uma organização também é um sistema, composto de fundador, empregados, gestores, colaboradores, parceiros, clientes, fornecedores etc. Convivemos em diversos sistemas simultaneamente, interagindo numa realidade cada vez mais interligada e intricada.
Assim, compreender o conflito envolve esse olhar para o sistema do cliente, quem será afetado pelas decisões e escolhas do cliente e quanto à estratégia jurídica.
Envolve, ainda, entender a questão que o cliente realmente traz e sua necessidade não atendida. Por mais que o cliente chegue com a certeza do objetivo quando procura um advogado, ele não tem claras as repercussões que tal decisão possa trazer para suas relações.
Na maioria dos casos, o cliente está procurando não apenas uma consulta jurídica, e sim a solução do problema, porque não consegue ter clareza de como trilhar esse caminho para a pacificação dos seus conflitos, ou necessita dos meios judiciais para assegurar sua posição de detentor de direitos. Dessa forma, o profissional que atua com esta postura busca gerar a possibilidade de uma solução mais equilibrada ao cliente e seu sistema (família e pessoas relacionadas neste conflito), seja pelos meios adequados de solução de conflitos, seja pelo ajuizamento da demanda no Judiciário.
Então, o que muda em relação na atuação de um advogado sistêmico? Esse profissional aplica constelação no escritório? Não há resposta certa ou errada. O que deve haver é uma postura responsável, construída através do olhar para si, de formações adequadas e do contínuo aprendizado. Há advogado que constela em seus escritórios, facilitando a visualização dos conflitos. Há tantos outros que trazem a compreensão dos conflitos por meio de técnicas e práticas, linguagem e empatia, e, principalmente, perguntas estruturadas no pensamento sistêmico.
As técnicas não têm por finalidade o tratamento psicológico, mas a compreensão do comportamento do cliente e de seu sistema. O olhar envolve não apenas a ponta do iceberg, mas os aspectos emocionais e inconscientes para mapear o conflito e gerar a autorresponsabilidade, através de autonomia de vontade do cliente. O que a mediação chama de protagonismo das partes.
E o que é Constelação Familiar? O que é Direito Sistêmico? Vamos abordar em breve um pouco mais sobre esse assunto em um próximo artigo.
Mín. 21° Máx. 40°